Eu tive que dizer que ia te deixar, pra me enganar, pra não pensar mais que já tinha te deixado ficar. Pra não ter que aceitar a idéia de que em tão pouco tempo, você tinha feito daqui sua casa.
Você foi muito mal educado, nem sequer pediu por favor, foi chegando, se instalando, largando suas coisas pelos cantos, no início achei aquilo meio charmoso; agora não sei o que fazer com as suas coisas nos cantos.
É sempre aqui que começa a complicar. Eu também não sei se você quer ficar, e se a sua presença aqui me irrita, a sua ausência me desolaria. Os cantos já se habituaram às suas coisas. O que eu faria dos cantos sem as suas coisas, afinal? Eles não teriam mais razão de existir, e é muito triste algo perder a razão de existir.
Eu queria, antes de dizer que ia te deixar, dizer dessa minha falta de jeito pra deixar as coisas acontecerem à seu tempo, como o mundo definir. Queria te contar da pressa, do medo, e de tudo o mais que divide espaço nessa casa com as suas coisas. Não contei.
Agora estou aqui, olhando pros cantos e vendo como eles estão mais coloridos. Você abre as janelas da casa, como se ela fosse sua, e de repente vai embora, como visita. Me confunde o pulsar, querido, me confunde.
Se você prometer ficar, eu prometo que te conto a razão de existir dos cantos.
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