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sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

2 years later

"It’s a dangerous business, Frodo, going out your door. You step onto the road, and if you don’t keep your feet, there’s no knowing where you might be swept off to."
2 years and 1 day ago I boarded a Sao Paulo - Frankfurt flight listening to Beatles, Blackbird, thinking I was 'only waiting for that moment to arise'. A day after, on a snowy Wednesday evening, I arrived at New Street Station, Birmingham, for the first time. From that day on I have, every single day, asked myself: "What the heck am I doing here?".
I have, since, found many different answers to that question. First, it was a Masters, in a while I realised it had more to do with growth and change, after that it became a dream, a business idea, and then came love, and the answer keeps changing. Every day I ask "What the heck am I doing here?", and every day the answer is different. And some days I don't even have an answer. And that is ok too.
If the first year was a lot about myself, and discovering who am I - or who I am not, as I am still not exactly sure of who I am -, the second year was about my surroundings, the people and the environment around me. I traveled more. I enjoyed my friendships more. I valued the people around me more. I opened up to accept more opinions, advices, help, hands and hugs and "Oh I got by with a little help from my friends".
Today I am here, sitting on my couch, with a massive to do list I left aside to write this down, morning sun coming through my window, and the first day of year 3 greeted me singing "here comes the sun, and I say, it's alright".
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2 anos e 1 dia atrás eu embarquei num vôo São Paulo - Frankfurt ouvindo Beatles, Blackbird, pensando que eu estava 'only waiting for that moment to arise'. Um dia depois, numa quarta-feira de neve, eu cheguei à estação New Street, em Birmingham, pela primeira vez. Daquele dia em diante eu me perguntei, todos os dias, "O que diabos eu estou fazendo aqui?".
Eu encontrei várias respostas pra essa pergunta. Primeiro era o Mestrado, então eu percebi que tinha mais a ver com crescimento e mudança, depois virou um sonho, uma ideia de negócio, depois veio amor, e a resposta continua mudando. Todo dia eu pergunto 'o que diabos eu estou fazendo aqui' e todo dia a resposta é diferente. Às vezes eu nem tenho uma resposta, e tá tudo bem também.
Se o primeiro ano foi sobre mim, e descobrir quem eu sou - ou quem eu não sou, já que eu ainda não tenho muita certeza de quem eu sou -, o segundo ano foi sobre os meus arredores, as pessoas e os lugares a minha volta. Eu viajei mais. Eu aproveitei os meus amigos mais. Eu valorizei as pessoas a minha volta mais. Eu aceitei mais opiniões, conselhos, ajuda, mãos estendidas e abraços e "Oh I got by with a little help from my friends".
Hoje eu tô aqui sentada no meu sofá, com uma lista enorme de coisas pra fazer que eu deixei de lado pra escrever isso, o sol da manhã entrando pela janela da sala, e o primeiro dia do ano 3 me cumprimentou cantando "here comes the sun, and I say, it's alright".

sábado, 19 de abril de 2014

Dive in

One of my fave photographers, Mr. Jean Guichard - Le Creac'h

The village she's named after is landlocked and safe, and that makes sense. She's safe land, I'm raging ocean. I'm deep water, burying sunken ships and all their treasures. I'm a sea of uncertainties that makes you curious, excited and... scared.

Diving in is tempting, but you've been living on safe land for so long your feet get stuck on the ground. Look, all I can do is warn you. My tide rises and falls in the blink of an eye and red flags are always up. I know you can swim, but there's no lifeguard around and the currents might pull you away from safety, where your feet can't touch the ground anymore.

Sometimes I'm warm Atlantic, sometimes I'm ice cold Arctic. My sharks are usually as hungry as my eyes, and they bite. They might eat pieces of you you'll never get back. The colourful creatures that live deep inside are beautiful, but you might never be able to breathe under water. 

You look down at me, your heart wants to jump in. I look back at you, waves crashing against the cliff. Do you still want to dive in?

  • soundtrack: Superheavy - I don't mind
I don't mind
If you live in my mind
I'm happy to keep you there
And that's fine
Oh you
You're all that i like
And my imagination's clear
(...)
I'm trying to tell you that...
Sweet dreams are made of me
And who are you to disagree?

terça-feira, 2 de julho de 2013

My Angus Please Stay

La Muguet du Metro - Robert Doisneau - Paris
Um oceano inteiro entre nós não importa quando você é a primeira pessoa que eu vejo de manhã. Como pode isso acontecer, quando eu te vi tão pouco? Como pode você estar sempre tão perto quando sempre houveram cidades, estados, oceanos entre a gente?

É pra você que eu conto as coisas engraçadas e é pra você que eu conto quando tenho um coração partido. É pra você que eu peço conselhos sobre homens, e aqui desse lado, esperando sua resposta, eu sorrio e imagino como seria se você me mandasse calar a boca e deixar esses caras pra lá, com sotaque carioca: "Deixa disso, menina, você sabe que tem que ficar comigo". Ao invés disso você me diz pra relaxar, que eu sempre vou ser boa demais pra eles.

Talvez eu precise ter um amor platônico pra me manter no chão, por mais paradigmático que isso pareça. Talvez eu precise ter você longe, e não perto. Talvez você ocupe um daqueles pedaços de coração que preenchem os espaços entre os cacos.

Talvez você seja um colete salva-vidas, que me impede de afundar como Veneza. Engraçado eu dizer isso, porque sempre pensei que eu é que fosse seu Mar Morto, mas no fim das contas, você é que é o meu. I never sink when you are with me. 

Eu ainda espero que um dia, numa esquina, num hotel, num parque ou numa praia, a gente se esbarre de novo e bote a conversa em dia, tomando uma cerveja. E lembre de tudo que nos aproximou, e ria de quando você conversava comigo trancado no banheiro. E aí eu escrevo uma dedicatória pra você naquele livro...

  • para ler ouvindo: M.A.P.S. - Yeah Yeah Yeahs
Wait, they don't love you like i love you
Wait, they don't love you like i love you
Ma-a-a-a-ps, wait! 
They don't love you like i love you...

Made off
Don't stray
My kind's your kind 
I'll stay the same

sábado, 13 de abril de 2013

In my shoes

When I decided to be myself, I knew I would face a lot of judgement and criticism, I knew that would hurt, but I also knew I had no choice. I needed to break the shell in order to survive.

Not without pain, I chose to face the judgement with my head high, I knew that meant I'd have to be lonely a lot of times. I knew some people wouldn't understand. I also knew that was the only option I had. 


While being me, I do my best not to disrespect people. I do my best not to hurt people. I mean no harm. If that happens and I notice, I apologise. It takes a lot from selfish me to apologise, but I do it.


Being me will often make me an outcast, being me will often make me the ‘weirdo
’, being me will often scare people. Being me also got me the greatest friends I could ask for. Being me also brought me where I am today, and I’m sure it will take me even further. 

I won’t apologise for being me, I won’t apologise for my choices. I won’t even feel bad for them, at all. I’m open to changes, don’t get me wrong, I always am. I’m in a constant metamorphosis, I adapt.


But no, I won’t question who I am, I won’t jeopardise my integrity or my character. And no, I won't ever give up on my freedom. Not for a second. That’s me, like it or not. That’s all I can be. And I (completely absolutely definitely) love it.


  • para ler ouvindo: Slow and Steady - Of Monsters and Men
I move slow and steady

But I feel like a waterfall

Yeah, I move slow and steady

Past the ones that I used to know


quarta-feira, 10 de abril de 2013

Ausência de explicação

Photo by Helmut Newton
Eu ainda não encontrei uma metáfora pra você. Talvez eu nunca encontre, talvez você não precise de uma metáfora pra ficar perto de mim. Acho que nada que é tão bom quanto nós somos juntos precisa de metáfora.

Forget all that right and wrong b.s.. Come over. Crawl into my bed. Crawl into me. Ain't nothing bad about that. It's all good. It's all fine. It's all over us.

E quando eu acho que tudo passou, nós redesenhamos. Com outros tons, outros sons, outros gostos e outros toques. Vou dormir lembrando da gente. De como ficamos bonitos juntos. De como ficamos loucos e viramos animais famintos juntos.

We eat each other with our eyes. We eat each other with our hands. It's not just eating, it's devouring. Devouring in the most animal sense this word can possibly ever have.

O espelho vai refletir por muito tempo a mesma imagem. Você. Eu. Eu. Você. Suas mãos em mim. Me segurando do jeito que você tinha desejado e ensaiado a tarde inteira. E quem precisa de ensaio, quando os nossos movimentos fluem assim, tão naturalmente perfeitos.

Talvez, da mesma forma que não temos uma metáfora, também não nos seja necessário um começo e um fim. Nem ensaios, prosas e poesias. Nem desenhos ou espelhos. Talvez a gente seja a ausência de explicação.

  • para ler ouvindo: Nouvelle Vague - Dance with me
The way I want to love you
Well it could be against the law

terça-feira, 9 de abril de 2013

Pasolineando em ilhas distantes


Les écoliers de la rue Damesme, Paris, 1956 - Robert Doisneau
Reproduz, filho, aqueles filhos.
Tem saudade daqueles filhos nos teus dezesseis anos.
Mas fica logo ciente
De que ninguém fez a revolução antes de ti;
De que os poetas e os pintores velhos e mortos,
Apesar do ar heróico com que os glorificas,
São absolutamente inúteis, não te ensinam nada.
Goza as tuas primeiras experiências, ingênuas e teimosas,
Tímido dinamitador, senhor das noites livres,
Mas lembra-te de que estás aqui só para ser odiado,
Para destruir e matar.

Pier Paolo Pasolini

quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Sobre sonhos e planos de voo

Garry Winogrand

Sonhei contigo essa noite. Estávamos no meu carro, eu dirigia por uma estrada reta, com muitas subidas e descidas. O destino era uma praia qualquer, e na verdade o destino não me importava. Eu só não queria acordar, não queria que a estrada terminasse.

Você tinha me puxado pela mão e dito "vamos", e você nunca me puxou pela mão antes desse sonho. Voltei ao ponto em que sonhar contigo tem sido minha única diversão, minha fuga de tudo que é real, meu contato com um mundo paralelo em que a gente pode e quer estar perto.

O que eu sinto por ti me faz sorrir, é diferente de paixão, ou amor. É tudo que existe de mais incerto, platônico e perdido pra mim. E talvez por isso mesmo me faça sorrir. Sorrisos bobos e sorrisos maliciosos, daqueles que arrepiam o pescoço.

O que há de mais concreto na minha vida agora é a caixa d'água da casa dos meus pais. Tenho uma passagem só de ida, e, além disso, não tenho planos de viagem ou de fuga. Ou de voo. Eu nunca tenho um plano de voo. Mas queria te levar comigo.

  • para ler ouvindo: Dead Sea - The Lumineers
Like the dead sea,
You told me I was like the dead sea
You'll never sink when you are with me,
Oh Lord, like the dead sea
Woah I’m like the dead sea,
The finest words you ever said to me
Honey can't you see,
I was born to be, be your dead sea




terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Um bolero, uma foto e uma bossa

Elliott Erwitt - California - 1955
Bolero

Qué vanidad imaginar 
que puedo darte todo, el amor y la dicha,
itinerarios, música, juguetes.
Es cierto que es así:
todo lo mío te lo doy, es cierto,
pero todo lo mío no te basta
como a mí no me basta que me des
todo lo tuyo.

Por eso no seremos nunca
la pareja perfecta, la tarjeta postal,
si no somos capaces de aceptar
que sólo en la aritmética
el dos nace del uno más el uno.

Por ahí un papelito
que solamente dice:

Siempre fuiste mi espejo,
quiero decir que para verme tenía que mirarte.

Y este fragmento:

La lenta máquina del desamor
los engranajes del reflujo
los cuerpos que abandonan las almohadas
las sábanas los besos

y de pie ante el espejo interrogándose
cada uno a sí mismo
ya no mirándose entre ellos
ya no desnudos para el otro
ya no te amo,
mi amor.

-Julio Cortázar (veja aqui a tradução)
  • para ler ouvindo: Futuros Amantes - Chico Buarque
Não se afobe, não
Que nada é pra já
O amor não tem pressa
Ele pode esperar em silêncio
Num fundo de armário
Na posta-restante
Milênios, milênios
No ar
E quem sabe, então
O Rio será
Alguma cidade submersa
Os escafandristas virão
Explorar sua casa
Seu quarto, suas coisas
Sua alma, desvãos


segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

Sobre a sua liberdade e o mundo


Les jardins du Champ de Mars - Robert Doisneau - 1944
Normalmente, quando chego a Florianópolis, o avião desce com a ponte Hercílio Luz à esquerda. Dessa vez não, o piloto deu a volta e aterrisei com o coração para o lado do Campeche. Lembrei de ti. Te dei tchau, já era hora de fazer isso.

Você me falou tanto da sua liberdade, quer saber? Vende essa moto e compra passagens, vai ver o mundo. Abre los ojos. Vai tocar com as tuas próprias mãos os lugares que tu já conheces dos livros. Isso vai te fazer mais livre que uma motocicleta ou a solidão. Aliás, estar sozinho muita vez é só prisão. Ficar parado também é.

Sai um pouco dos limites BR-101, das curvas da 282. Anda por outras estradas, outros países, outras pessoas. Sai um pouco do solo. Abre los ojos. Isso aqui não é tudo, nem é o máximo que você pode alcançar. Junta uns trocados, pega a mochila e vai. Vai conhecer os albergues e as estações de trem. As meninas. Os bares de rock. O outro lado do mundo. Você merece. E precisa.


domingo, 16 de dezembro de 2012

Eu te confesso, Quintana...

Para o fim de semana preguiçoso que vai se alongando com o dia comprido, e se espreguiça na noite de domingo, pronto para levantar e ir embora, just like me...

Confissão

Que esta minha paz e este meu amado silêncio
Não iludam a ninguém
Não é a paz de uma cidade bombardeada e deserta
Nem tampouco a paz compulsória dos cemitérios
Acho-me relativamente feliz
Porque nada de exterior me acontece...
Mas,
Em mim, na minha alma,
Pressinto que vou ter um terremoto!


(Mário Quintana)

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Born to Die (Lana del Rey - parte 2 - fim)


"Seu beijo vale um tapa na cara", foi o que você disse ao me reencontrar depois de 5 anos.
Cinco anos atrás eu tinha muito tempo livre e adorava os teus braços tatuados. Agora eu sou uma daquelas 'pessoas com passagens compradas' e as tatuagens não causam o mesmo impacto. Mas qual o problema em experimentar uma segunda vez? Foi assim que comecei a gostar de sushi, afinal.

"Foi melhor que a primeira", eu disse e você concordou, enquanto eu recuperava o fôlego.
Você contou algumas sardas nas minhas costas, cheirou meu pescoço, e concluiu:
"Galega, você é cheirosa, tem esse cheiro de loira..."
"Cheiro de loira? Hum...", não esperei resposta, estava mais preocupada em deixar você continuar beijando pedacinhos de mim.
Subi em você, e quando você revirou os olhos, deitei do teu lado, e dormi. Dormi pensando que nunca tinha feito um homem revirar os olhos daquele jeito antes.

Acordei mau-humorada, não gosto de dividir minha cama, tinha dormido pouco e mal, e você estava lá, esperando que eu me apaixonasse. Que eu fizesse, de novo, a mágica da noite acontecer. Abri a porta pra você ir, dei um beijo de tchau. Não fiquei na janela olhando você sair e suspirando. Me vesti e fui trabalhar, com aquela noite já guardada em seu lugar.

'Você fica bonita dormindo', dizia a mensagem no meu telefone. Quando cheguei ao escritório e liguei o computador, lá estava você, me dizendo o quanto gosta de mim mesmo sem nenhuma razão plausível para isso, já que eu não sou gostável. E contando que você não dormiu para me olhar um pouco mais.

Vê bem, menino, não é difícil entender o que eu vou dizer: eu não quero que você goste de mim. Nada disso vai acontecer outra vez. Eu quis te fazer feliz por uma noite, e eu fiz. Não torne complexas as coisas simples. Não se ofenda com isso. Me desculpe por isso. Lo siento.

  • para ler ouvindo: Lana del Rey - Born to Die
Choose your last words
This is the last time
'Cause you and I
We were born to die

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Ride (Lana del Rey - parte 1)


O texto anterior não era sobre você, apesar de você me querer no seu livro e estar se esforçando pra me colocar nele outra vez. Meu beijo vale, sim, um tapa na cara. Eu sei, mas olha, eu queria que você soubesse que esse seu jeitinho de ir dizendo o que eu quero ouvir não me convence. Não me convence.

Fingir se importar com o que eu faço é tão patético e batido. Perguntar coisas bobas e fazer comentários que sempre concordam é tão clichê. Tanto quanto convidar para jantar. Em especial, sushi. Pode parar, eu já estou indo embora. Nada disso é necessário. Você sabe, eu não quero paixões duradouras. Não quero levar nada de você comigo.

Aliás, não quero nada de você além de algumas cervejas geladas e uma boa noite. Tenho amigos o bastante. Amores idem. Vou levando pra ver qual é, afinal, não perco nada em te dar um par de horas de atenção, confissões tolas e risadas. Só não durma na minha cama, por favor.

Sabe, você frequenta essas festinhas cheias de barbudos e hipsters, isso é um saco. Essa turma toda me cansou, e continua me cansando cada vez que os vejo por aí, e você é um deles. Não se espante se eu fugir, eu fujo do que me dá tédio. Eu fujo dessa legião de robôs, padronizados, fechados nas suas caixinhas.

"Dirige exclusivamente motos e foge sempre que tem a oportunidade".  E no fim, quem é você para me pedir pra não fugir?


  • para ler ouvindo: Lana del Rey - Ride 
Been trying hard not to get into trouble, but I

I’ve got a war in my mind
So, I just ride


segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Uma carta de Quintana para o meu coração

A carta

Hoje encontrei dentro de um livro uma velha carta amarelecida,

Rasguei-a sem procurar ao menos saber de quem seria...

Eu tenho um medo
Horrível
A essas marés montantes do passado,
Com suas quilhas afundadas, com
Meus sucessivos cadáveres amarrados aos mastros e gáveas...
Ai de mim,
Ai de ti, ó velho mar profundo,
Eu venho sempre à tona de todos os naufrágios!

(Mário Quintana)



quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Sobre dedicatórias e coincidências

Robert Doisneau (meu amor) - Paris - 1947
“De tudo que vem de você, permanece em mim uma vontade de sorrir”. 

Eu li a primeira frase da dedicatória e desejei que tivesse escrito uma assim, tão bonita, para você. Não tenho ferramentas para isso. Te conheço tão pouco. Me reconheço em ti, mas isso não é suficiente.

Me reconheço na falta de fé e na crença sobre a energia que move o mundo. Na ideia de que as coisas e sentimentos, todos eles, são ilusões muito bem construídas. No tédio dos outros e de nós. E na vontade de estar sozinho, no mundo ou no banheiro.

A verdade é que eu te dei aquele livro pra você me ter por perto de alguma forma. Tenho essa inclinação especial pelas coisas temporárias e com prazo determinado para acabar, talvez por isso goste tanto de ti.

Gosto muito de ter feito um pouco da nossa imaginação virar realidade naqueles dias de sol e fugas para a praia, mas gosto mais ainda do que permanece imaginário, idealizado, platônico. Assim não precisamos esperar mais nada de nós além do que já passou.

Mas o livro, o livro pode ficar contigo por muito tempo. E pode acabar em um sebo qualquer. Sem minha dedicatória. E quem sabe, no seu quarto sem cama e sem guarda-roupas, você encontre um outro lugar para me esconder. E ainda lembre de mim à noite, antes de dormir.

E eu, bom, para além de todas as coincidências daquela matéria d'O Globo, de tudo que vem de você, permanece em mim uma vontade de sorrir...


terça-feira, 27 de novembro de 2012

Mudança

Foto: Tim Walker (um britânico para brindar os novos ares)
Recolhendo pedaços de mim às caixas de ovos que consegui no mercado. Foi assim que passei a noite ontem. Separando minha vida em quebráveis e não quebráveis e escrevendo isso nas caixas para que todos saibam que eu tenho, sim, coisas que quebram.

Guardei copos, taças, canecas de café. Guardei pratos fundos e rasos. E embalando um a um eu os ia deixando para trás, como parte de uma vida que era minha, mas que eu escolhi abandonar. Separei potes de plástico, decidi doá-los, não preciso mais hermetizar nada dentro dos meus potes de plástico.

Encaixotei meus DVD's, meus filmes preferidos não devem mudar, e eu já os assisti todos. Replays não me fazem a cabeça. Meus livros, eu os carregaria nas costas, como uma desculpa para ter peso sobre meus ombros, mas não o farei. Preferi a leveza. Lacrei os livros na caixa, e decidi levá-los dentro de mim apenas.

A gata, ela sim me fará falta. Não me sinto bem com a ideia de deixá -la, mas não há outra maneira de eu seguir em frente. Ela ficará. E afinal, não poderia haver guardião mais apropriado para o meu maior amor que o meu melhor amor. Levarei fotos. Dos dois.

No fim, minha casa estava ali, em cinco caixas e um gato. Eu cogitei chorar, achei melhor não. Em pouco tempo haverá outra vida. Haverá nova casa. Em pouco tempo e 9999 quilômetros, começo a construir um caminho que me levará onde eu desejo chegar.

E se nada disso me fizer feliz, posso encaixotar tudo outra vez.

  • para ler ouvindo: Imagine Dragons - It's time
It's time to begin, isn't it, i get a little bit
Bigger, but then, i'll admit, i'm just the same as i was
Now don't you understand

That i'm never changing who i am