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quarta-feira, 31 de outubro de 2012

110 anos de Drummond

Poderia entre tantos escolher outro trecho, outra poesia, e talvez o faça mais adiante, mas por ora, por conta das possibilidades do agora, do depois e do nunca mais, escolhi esse.

A língua girava no céu da boca 
A língua girava no céu da boca. Girava! Eram duas bocas, no céu único. O sexo desprendera-se de sua fundação, errante imprimia-nos seus traços de cobre. Eu, ela, elaeu.  
Os dois nos movíamos possuídos, trespassados, eleu. A posse não resultava de ação e doação, nem nos somava. Consumia-nos em piscina de aniquilamento. Soltos, fálus e vulva no espaço cristalino, vulva e fálus em fogo, em núpcia, emancipados de nós. 
A custo nossos corpos, içados do gelatinoso jazigo, se restituíram à consciência. O sexo reintegrou-se. A vida repontou: a vida menor.
(poesia da coletânea "O amor natural", 1977) 

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