Pages

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

the rape kit

Por trás dos meus olhos vivem, além de amigos imaginários, um monstro e um fantasma. Dos dois, menos assustador é o fantasma, ele tem um rosto.

Fantasma é um medroso, e fica pequenininho quando vê cores bonitas, ou quando sente cheiro de mar. Só aparece às vezes. É que quando aparece escorre pelo rosto, ocupa o espaço inteiro do peito e deixa tudo comprimido contra o coração. Trava as pernas. Me esconde debaixo de um travesseiro para que ninguém possa vê-lo em mim. Fantasma já me acompanha há muitos anos, uns vinte. Ele apareceu e eu nunca consegui deixá-lo ir.

O Monstro, esse sim mete medo. Ele murmura no meu ouvido que eu devo me jogar daquela janela, ele quer me cortar os pulsos e a garganta. O Monstro repete todo dia que é inútil estar aqui, que nenhum destes lugares é meu lugar, me pergunta qual o sentido de viver presa a esse corpo, de suportar essas dores. O Monstro me põe lentes embaçadas nos óculos, e aí tudo fica chato, tedioso, cinza. E quando tudo está assim o Monstro grunhe "vai, vai embora, acaba logo com isso". Monstro está comigo há uma década, já deixou cicatrizes nos braços e na alma. Eu já o mandei sair, ele não vai, diz que só vai se eu for junto.

para ler ouvindo: Six Weeks - Of Monster and Men

"Sleep, sleep all night
while the young, they wait alone
Get up, shake the rust
We crawl, we crawl, we crawl, we crawl on the ground

Alone, I fight these animals
Alone, until I get home"

 

0 comentários:

Postar um comentário