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sexta-feira, 18 de junho de 2010

Eles também tem Orkut.

Quando comecei a pensar na matéria sobre os moradores de rua não imaginei que seria tão difícil e ao mesmo tempo tão fácil conversar com fontes e apurar esta pauta. Difícil, porque se aproximar de pessoas naquela situação e olhá-las nos olhos não é nada simples, faz refletir e até sentir um pouco de culpa. Mas muito fácil também, o pouco tempo que dediquei àquelas pessoas foi muito mais do que elas estão acostumadas a receber, e elas gostam de contar suas histórias.
Meu primeiro entrevistado foi o Seu Guilherme, que vive na rua há 17 anos. Ele estava sentado na calçada, no dia da estréia da seleção brasileira na copa, e todo mundo passava correndo por ali, indo pra casa ver o jogo. Seu Guilherme não assiste a uma partida da seleção faz tempo, não torce por nenhum time. Estávamos conversando sobre isso, ele tomava um café com leite que eu havia trazido, quando passou um senhor elogiando minha atitude. Seu Guilherme me contou que o mesmo homem passa ali todos os dias, e nunca o olhou nos olhos. Fui embora com uma sensação estranha. Como será que Seu Guilherme passou a noite? No outro dia ele não estava mais naquele lugar.
Mais tarde, bem depois da vitória apertada do Brasil sobre a Coréia do Norte, decidi que deveria ir ao abrigo para moradores de rua. Logo que cheguei na fila e me apresentei a todos, eles disputavam minha atenção para falar um pouco de si, e cada vez que olhava nos olhos de alguém, ou os chamava pelo nome, era perceptível a empolgação, a felicidade de ser tratado um pouco mais como gente e menos como bicho, lixo. Não me senti ameaçada por eles em nenhum momento, nem quando tirei minha câmera da bolsa, aliás, quando fiz isso, eles fizeram pose e pediram para que eu tirasse uma foto. A foto vai para o Facebook de um deles e o Orkut de outro, e contar isso é só uma maneira de mostrar que eles são muito mais parecidos conosco do que imaginamos.

2 comentários:

Ângela Cavalcante disse...

Que legal Ju!!!
Viajei com você nesse post. Foi como se também estivesse fazendo a matéria. Poxa... Casos como esse nos levam à sensações confusas, né verdade?

Quero ler a matéria quando ficar pronta!

bjs loirinha

Saudades...

IMSOMNIA disse...

É issaí! Eles também são gente! Já diria nosso amigo Alfredão!
Bjo Grande linda!

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