“(...) Hoje de noite, hoje de noite vai ser a minha vida diária retomada, a de minha alegria comum, precisarei para o resto dos meus dias de minha leve vulgaridade doce e bem – humorada, preciso esquecer, como todo mundo.”
Clarice Lispector – A paixão segundo GH
Hoje de noite eu vou dormir longe de casa. Hoje de noite vai ser minha vida diária derrubada... por furacões, por tsunamis, por terremotos. Precisarei de minha leve vulgaridade doce e bem-humorada. Porque não quero pensar nisso, nem no que vou fazer, nem no que vão fazer de mim. Preciso esquecer, como todo mundo.
Parafraseio Clarice porque sim. Porque foi ela que me apareceu a fazer companhia numa tarde dessas em que se quer esquecer como todo mundo. Eu fui e estou voltando, nada mudou e tudo mudou. Pouco tempo ou muito tempo? Hoje de noite será minha vida diária roubada, por algumas horas, num hotel qualquer do Rio de Janeiro. E ele continua lindo, continua sendo, fevereiro e março. Março. E depois abril.
Duas décadas de abril, duas décadas em abril. Pouco, sem dúvida, e há vezes em que parece tanto... Precisarei de minha leve vulgaridade doce e bem-humorada para atender aos telefonemas, receber os abraços e brindar cerveja, champanhe, vodka barata mais uma vez. Agora bebo água. Água, só água. Sem limão, sem gelo, sem gás.
Hoje de noite, preciso esquecer, como todo mundo.
0 comentários:
Postar um comentário