Menina Doce

E a menina mais doce que aqueles pirulitos que a gente comia quando era crianca chegou, e ela nem disse oi, mas nem precisava, com todo aquele sorriso. Ela entrou assim, e sentou,e parecia que era a casa dela ali mesmo. E a casa dela era ali mesmo.
Olhava tudo com aqueles olhos enormes, e tristes; sim, porque olhando bem, apesar de toda a docura ela tinha olhos tristes. Olhava tudo, registrava, olhava de novo, piscava, nao olhava mais, olhava pro nada, e logo voltava a olhar tudo.
Nao demorou muito ate ela descobrir que a casa nao era so dela, que varios fantasmas tambem viviam ali, e logo ela fez amizade com eles. E era feliz assim a menina doce, e nem sempre era feliz, as vezes nao gostava tanto daquela casa e as vezes os fantasmas lhe chateavam.
Ela conversava por horas com os fantasmas, sobre varias coisas. Eles conheciam muitos lugares, e contavam historias pra menina doce. Ela gostava de ouvir, prestava atencao, e eles ate levavam ela pra viajar quando podiam. Um dia deram um cachorrinho pra menina doce. nunca tinha visto ela tao feliz.
E a felicidade dela era um tanto estranha, porque nao era tao feliz assim. Era uma felicidade meio triste, entende? Uma felicidade quietinha, calada, feito a menina doce era. Uma felicidade de olhos tristes, e um sorrisinho meio timido, envergonhado de estar feliz, e se transformava em risadas nervosas, ainda envergonhadas.
E quando estava triste ela sorria, e chorava. Acendia todas as luzes da casa, e depois apagava tudo. E olhava tudo no escuro, com aqueles mesmos olhos enormes. E fechava as janelas, ia pro canto, e deitava, fechava os olhos, e chorava, e esperava.
Eu nao sei muito mais sobre a menina doce, me disseram que ela era tao doce, mas tao doce, que derretia na boca. Nunca mais ouvi falarem nela, nem sei se ainda mora naquela casa que era as vezes colorida e as vezes preta e branca.

A menina doce era tao doce, mas tao doce, que derretia na boca.